Contexto e motivação
Arquitetura corporativa costuma ser percebida como algo técnico e distante da realidade dos negócios. Mas, em contextos de transformação estratégica, ela é um dos principais instrumentos para garantir que a estratégia seja exequível.
No entanto, se a apresentação não for adequada ao público, a arquitetura pode parecer irrelevante ou gerar resistência. Este guia ajuda consultores e arquitetos a construírem narrativas claras, estratégicas e visualmente acessíveis, conectando a arquitetura ao impacto no negócio.
Aplicabilidade
Utilize este guia quando:
- For apresentar impactos arquiteturais em comitês executivos ou para stakeholders de negócio
- Houver necessidade de vender uma mudança de arquitetura para viabilizar uma estratégia
- A consultoria precisar posicionar a arquitetura como pilar estratégico, e não como custo técnico
- Em reuniões de governança, apresentações de roadmap, follow-ups com diretoria
Descrição do processo
1. Comece pela estratégia
- Inicie a apresentação com os objetivos estratégicos da empresa, e não com arquitetura.
- Mostre o que a organização quer alcançar e quais os desafios percebidos.
2. Conecte a arquitetura com os resultados
- Mostre como a arquitetura atual limita ou viabiliza os objetivos
- Use o raciocínio de causa e efeito: “se mantivermos X, será difícil alcançar Y”
3. Use analogias e metáforas
- Torne conceitos técnicos tangíveis:
- Sistema legado = “coluna quebrada de um prédio”
- Integração = “diálogo entre setores que hoje não se falam”
- Arquitetura = “fundação do prédio estratégico”
4. Visualize o impacto (antes e depois)
- Use diagramação simplificada: camadas, blocos funcionais, fluxo de valor
- Mostre o cenário atual e o desejado com clareza visual
- Evite termos técnicos, foco em função e valor
5. Mostre valor e prioridade
- Relacione as mudanças arquiteturais a:
- Ganhos de negócio (ex: escala, eficiência, tempo de resposta)
- Redução de risco (ex: compliance, segurança)
- Sustentação de crescimento (ex: time-to-market)
6. Conclua com clareza e proposta de ação
- Termine com um chamado à decisão ou reflexão
- Pode ser: aprovação de iniciativa, alocação de orçamento, mudança de prioridade
Exemplo prático de aplicação
Cenário:
A consultoria está apresentando ao CFO de uma indústria a proposta de reestruturação arquitetural do setor financeiro, como parte do plano de transformação estratégica.
1. Início pela estratégia
A apresentação começa com o objetivo estratégico definido pelo board:
“Reduzir os custos operacionais do setor financeiro em 20% até o final do ano, por meio de automação e integração de sistemas.”
2. Conexão da arquitetura com os resultados
A equipe demonstra, com base no diagnóstico, que o modelo atual de processos é altamente manual e fragmentado:
“Hoje, o fechamento contábil depende de lançamentos em três sistemas distintos, sem integração. Isso exige conciliações manuais e retrabalho constante.”
3. Uso de analogias e metáforas
Para tornar os conceitos compreensíveis ao CFO:
“É como se tivéssemos três caixas registradoras que não se conversam — alguém precisa anotar os números à mão todos os dias e somar no Excel no final do mês.”
4. Visualização do impacto (antes e depois)
É exibido um fluxo simplificado com duas colunas:
- Antes (AS-IS):
- 9 etapas manuais
- 3 sistemas isolados
- dependência de conferência humana
- Depois (TO-BE):
- 3 etapas automatizadas
- sistema ERP integrado com RPA para lançamentos
- supervisão humana apenas em exceções
5. Valorização e priorização da mudança
O slide final mostra:
- Redução de 70% no tempo de fechamento mensal
- Diminuição do risco de erro contábil
- Estimativa de economia de 1.200 horas/ano da equipe financeira
- Custo do projeto comparado com payback em 9 meses
6. Encerramento com proposta clara
A apresentação termina com um pedido objetivo:
“Propomos a aprovação do projeto de reestruturação arquitetural do financeiro, iniciando com a modernização do ERP e implantação de automação com RPA. O cronograma prevê entrega da primeira fase em 3 meses.”
Analogias e metáforas
- Arquitetura como fundação de uma casa: ninguém vê, mas se ela for frágil, todo o resto balança.
- Sistemas como setores que falam idiomas diferentes: a integração é o tradutor.
- Processos sem arquitetura são como estradas sem mapa: cada time segue por um caminho diferente.
Perguntas frequentes
Posso mostrar diagramas técnicos para o C-Level? Apenas se forem simplificados e com foco em valor. Prefira blocos funcionais, fluxos e comparações “antes e depois”.
Devo quantificar os impactos? Sempre que possível. Mesmo estimativas indicativas (tempo, esforço, custo evitado) ajudam a tangibilizar.
E se a liderança não estiver engajada com o tema? Conecte com temas sensíveis para eles: crescimento, risco, compliance, eficiência, orçamento. Traga o tema para a agenda deles.